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Com
déficit de cerca de 30%, pacientes agonizam e até morrem à espera de UTI
(Unidade de Tratamento Intensivo) em Campo Grande. No total, são 159 leitos
para quase 800 mil habitantes, sem contar pessoas de todo o Estado que vem à
Capital em busca de atendimento mais qualificado. Para piorar, nos últimos
cinco anos, as vagas diminuíram e profissionais da saúde preveem um colapso no sistema.
Senadores pedem reembolso de até R$ 70 mil
por tratamentos dentários
Gastos do plano de saúde dos parlamentares atingiram média de R$
6,2 milhões anuais no período de 2008 a 2012
ERICH
DECAT , FÁBIO FABRINI / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
Bancado exclusivamente pelo contribuinte - ou seja, a
custo zero para os senadores, ex-senadores e seus dependentes - o plano de
saúde do Senado paga despesas que incluem implantação de próteses dentárias com
ouro e até sessões de fonoaudiologia para melhorar a oratória e driblar a
timidez. Alguns senadores chegam a gastar até R$ 70 mil por tratamento
dentário.
Documentos
obtidos pelo Estado mostram que, nos últimos cinco anos, a
Casa autorizou tratamentos milionários, principalmente odontológicos. Tudo sem
fazer perícia física dos pacientes nem definir limites de cobertura. Os gastos
com os dentes dos senadores e outros tratamentos médicos, como sessões de
psicoterapia e fonoaudiologia, atingiram média de R$ 6,2 milhões anuais entre
2008 e 2012 - 62% desses valores dizem respeito unicamente ao reembolso de
notas fiscais e recibos. A reportagem obteve as despesas efetuadas em 2013, que
ainda não foram consolidadas pelo Senado. A estimativa é que a média de gasto
tenha se mantido inalterada.
O plano de
saúde do Senado é vitalício. Ele banca despesas de senadores, ex-senadores e
dependentes como filhos, enteados e cônjuges. Para usufruí-lo, o parlamentar
não precisa fazer nenhuma contribuição - basta que tenha exercido o cargo por
180 dias ininterruptos. Após a morte do titular, o cônjuge continua usando a
carteirinha. Como não há uma lista detalhada de procedimentos cobertos, os
beneficiários se sentem à vontade para incluir em seus gastos todo tipo de
serviço especializado.
O plano do Senado estabelece um limite anual de R$ 25,9 mil para
gastos odontológicos. Os documentos obtidos pelo Estado apontam, no entanto, que a Casa tem
pago valores que extrapolam de longe esses limites. O caminho para ignorar as
normas é invadir a cota não utilizada de outros anos.
Uma das
despesas mais comuns, nas notas apresentadas, é a de materiais sofisticados
usados em próteses, dificilmente cobertos pelos planos de saúde do mercado - e
que dão o melhor resultado estético.
Para o
presidente nacional do DEM, José Agripino Maia (RN), a Casa creditou R$ 51 mil
em 2009, referentes a 22 coroas de porcelana aluminizada, produto mais caro e
que confere aparência melhor. "Essa é uma opção mais estética, porque
troca uma infraestrutura metálica pela de porcelana aluminizada", diz o
cirurgião-dentista Rogério Adib Kairalla, do Conselho Regional de Odontologia
de São Paulo.
O senador
potiguar afirma que o tratamento foi "estrutural" e custou mais que o
reembolsado pelo Senado, o que o obrigou a pagar a diferença. "Foi mais
que implante. Tive de recompor toda a base dos dentes, por causa da barbeiragem
de um dentista. Ia jantar e caía", diz Agripino.
Já o
ex-senador Adelmir Santana (PSB-DF) pôs próteses de porcelana, com
infraestrutura em zircônia, o que custou ao contribuinte R$ 22,5 mil. "Na
parte de prótese, é a técnica mais requintada. Acaba custando mais",
afirma Kairalla.
Reabilitação. Senador
licenciado, o ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB-RJ), apresentou em 2010
notas que somam R$ 42 mil. No ano anterior, o Senado ressarciu despesas de R$
23 mil para tratamento dentário com um toque de requinte: a reabilitação da
boca na parte direita superior foi feita com coroas de cerâmica e pinos em ouro
odontológico. No mercado, segundo especialistas ouvidos pelo Estado, esse ouro custa mais que o
metal na sua versão convencional, nas joalherias, e dificilmente é coberto
pelos planos odontológicos.
Pedro
Simon (PMDB-RS) conseguiu ressarcimento de implantes dentários que totalizam R$
62,7 mil em 2012. "Fiz para aquele ano e com pedaço (da cota) do ano
seguinte, em duas parcelas", explica o senador gaúcho. "Digo mais:
foi feito a esse preço porque chorei, chorei e foi um preço bem menor. O valor
inicial era coisa de R$ 80 mil a R$ 85 mil."
Em ação
civil pública em tramitação na Justiça Federal, o Ministério Público, ao
analisar os gastos efetuados até 2010, considerou que os "desembolsos
envolvem valores exorbitantes, que fogem a qualquer padrão".
Timidez. A
generosidade do plano torna-se evidente no caso do senador Wilder Morais
(DEM-GO), suplente que assumiu a vaga de Demóstenes Torres (sem partido-GO)
quando este foi cassado. Parlamentar de primeira viagem e dono de uma fortuna
de R$ 14,4 milhões - segundo declarou ao Tribunal Superior Eleitoral -, ele
conseguiu em 2013 o retorno de R$ 1 mil referente a sessões de fonoaudiologia.
O dinheiro pagou parte de tratamento de "desenvolvimento de habilidades de
competência comunicativa" que Morais fez porque não tinha traquejo na
tribuna. "Ele é tímido", justificou sua assessoria.
A
ex-senadora Ana Júlia Carepa (PT) aproveitou o plano, entre 2007 e 2011, e fez
vários implantes. "Eu poderia pôr uma dentadura, mas acho que ficaria
complicado, né?" Além dos implantes, a ex-senadora diz ter feito também
clareamento nos dentes que não foram mexidos. "É até consequência. Como
vai ter que refazer, serve para igualar", justificou.
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