Ricardo Noblat
O GLOBO - 23/05/11
O
que há em comum entre Antonio Palocci, chefe da Casa Civil da presidência da
República, dono de um patrimônio que se multiplicou por 20 no curto período de
quatro anos como deputado federal, e Dominique Strauss-Kahn, ex-diretor do
Fundo Monetário Internacional, preso em Nova Iorque por ter agredido
sexualmente uma arrumadeira de hotel?
Em
comum: Palocci e Dominique não podem contar exatamente o que fizeram - nem por
que fizeram. Palocci alega que uma cláusula de confidencialidade o impede de
tornar pública alista de clientes de sua empresa de consultoria. Somente no ano
passado ela faturou R$ 20 milhões - metade entre o dia da eleição e o dia da
posse de Dilma.
Dominique
insiste em repetir por meio dos seus advogados que é inocente. Não, não se
trancou com a arrumadeira em uma suíte do Hotel Sofitel, no coração de Nova
Iorque. Não, não a jogou sobre acama para estuprá-la. Muito menos a obrigou a
fazer sexo oral nele. A Justiça aceitou as sete acusações que pesam sobre
Dominique.
Por ora, nenhuma
acusação pesa sobre Palocci. Pesa a robusta suspeita de que enriqueceu
rapidamente fazendo lobby para empresas empenhadas em fechar negócios com o
governo. Ou municiando-as com informações privilegiadas às quais tinha acesso
como ex-ministro da Fazenda do governo Lula e influente deputado do PT. Ou, ou,
ou...
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O bando
de testemunhas de defesa merece ser incluído entre as provas contra Palocci
Emudecido pela descoberta do
milagre da multiplicação do patrimônio, que fez de um médico sanitarista o mais
próspero especialista em operações de emergência, Antonio Palocci está
completando nesta segunda-feira oito dias de estrepitoso silêncio. Não precisou
dar um pio para ser absolvido pela Comissão de Ética Pública da Presidência da
República. Bastaram explicações por escrito. Não precisou sequer telefonar para
congressistas para conseguir a solidariedade da base alugada (e de
oposicionistas estrelados). Bastou o recado do assessor Thomaz Traumann
lembrando que o chefe fez o que meio mundo faz.
A cada 15 anos, o Brasil esquece o que aconteceu nos 15 anos
anteriores, constatou o jornalista Ivan Lessa. Esse prazo valia para o século
passado. Neste, ficou bem mais curto. As coisas andam mais velozes. Falta
espaço no noticiário e na memória dos brasileiros para armazenar por muito
tempo tantos escândalos, roubalheiras, pilantragens e sem-vergonhices
envolvendo corruptos poderosos. Hoje, nos cálculos do governo, o país esquece a
cada 15 dias o que aconteceu nos 15 dias anteriores.
Foi esse o prazo estabelecido pelo procurador-geral da
República, Roberto Gurgel, para que o chefe da Casa Civil apresente as
explicações solicitadas pelo DEM e pelo PPS. Ambos estão justificadamente
intrigados com o assombroso surto de enriquecimento que acometeu o ministro, e
que se tornou especialmente agudo depois da vitória de Dilma Rousseff. Até aí,
nada demais, apressou-se a esclarecer Gurgel antes mesmo de repassar a Palocci
as interrogações formuladas pelos partidos. “Exercício de consultoria não é
crime”, pontificou. (Em princípio, não é crime exercer ofício nenhum, desde que
o profissional não se valha dos instrumentos de trabalho para cometer
delinquências).
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‘Operação abafa’
chega ao Senado para barrar CPI e convocação de Palocci
O governo federal considera esta
semana decisiva para conter a crise em torno do ministro da Casa Civil, Antonio
Palocci, cobrado a explicar o aumento de seu patrimônio nos últimos anos. A
base aliada governista no Congresso estabeleceu como prioridade barrar a
tentativa de convocação de Palocci para depor no Senado, ação bem-sucedida na
Câmara na semana passada, e impedir que a oposição avance na coleta de
assinaturas para a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)
sobre o caso.
"Essa disputa é um embate
político, e o governo vai reagir para não permitir o desgaste do ministro. O
Palocci já deu todas as explicações", afirma o líder do governo no Senado,
Romero Jucá (PMDB-RR). A avaliação governista é a de que barrar a convocação de
Palocci na Comissão de Fiscalização e Controle, onde a oposição quer levá-lo
para dar explicações, e segurar os movimentos pró-CPI seriam um passo político
fundamental diante do atual cenário da crise, uma estratégia que não pode levar
em conta o surgimento de fatos novos que agravariam a situação.
Na Câmara, o governo trabalhou
com tranquilidade para derrotar a oposição. No Senado, o jogo é mais pesado,
embora o Palácio do Planalto tenha maioria. A ordem é não dar brechas em
comissões, para não repetir episódios passados, em que a oposição aproveitou
descuidos da base governista e conseguiu convocar ministros
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