Sentença do mensalão foi 80% política e 20% jurídica, afirma Lula
Ex-presidente diz à TV portuguesa que presos no mensalão não eram ‘gente de minha confiança’
Ricardo Chapola - O Estado de S. Paulo
São Paulo - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em entrevista exibida na noite de sábado, 26, pela Radio e Televisão de Portugal (RTP) que o julgamento do mensalão teve "80% de decisão política e 20% de decisão jurídica". Foi a primeira avaliação direta do petista sobre a sentença que levou à prisão ex-dirigentes do PT. Sobre os condenados, Lula afirmou: "Não se trata de gente da minha confiança".
Em novembro do ano passado, o Supremo Tribunal Federal começou a expedir as ordens de prisão dos condenados no mensalão. No Feriado da República, apresentaram-se à Polícia Federal o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex-presidente do PT José Genoino. Um dia depois, foi a vez de Delúbio Soares, ex-tesoureiro do partido, se entregar à PF. O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha foi preso em fevereiro. Todos foram condenados por participar do esquema de compra de apoio político no Congresso no início do governo Lula.
"O mensalão teve praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica. O que eu acho é que não houve mensalão", disse Lula na entrevista em Lisboa, onde esteve na sexta-feira como convidado do governo para a comemoração dos 40 anos da Revolução dos Cravos, que redemocratizou o país após 41 anos de ditadura.
Em seguida, a jornalista Cristina Esteves perguntava sobre o fato de pessoas da confiança do ex-presidente terem sido presas, mas foi interrompida por Lula. "Não se trata de gente da minha confiança", afirmou o ex-presidente. E emendou: "Tem companheiro do PT preso. E eu também não vou ficar discutindo a decisão da Suprema Corte. O que eu acho é que essa história vai ser recontada". Lula disse na entrevista – que durou pouco menos de 40 minutos – que o processo do mensalão foi "um massacre que visava a destruir o PT". "E não conseguiram."
Pouco antes de deixar a Presidência, no fim de 2010, Lula havia dito que iria "desmontar a farsa do mensalão". Já fora do Palácio do Planalto, o ex-presidente evitou fazer comentários sobre o julgamento, que teve início a 2 de agosto de 2012 e levou à condenação de 25 dos 38 denunciados pelo Ministério Público.
No início do mês, Lula já havia dito em entrevista a blogueiros, em São Paulo, que o mensalão deveria ser recontado e que era preciso estudar a "participação e o poder de condenação" da mídia nesse processo.
Lula dá
entrevista indecorosa sobre mensalão em Portugal
Na TV
portuguesa, ex-presidente desqualifica o trabalho do Judiciário brasileiro e
afirma que presos do mensalão 'não são gente de sua confiança’
Carlos
Graieb
O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece ser adepto da máxima
"uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”. Em entrevista
indecorosa à TV portuguesa RTP, publicada neste domingo no site da emissora,
Lula — a quem caberia defender no exterior as instituições brasileiras,
fosse ele estadista e não chefe de partido — desqualificou o trabalho do
Supremo Tribunal Federal e afirmou que as condenações do julgamento do mensalão foram, em sua maioria, políticas e não
jurídicas.
"O que eu acho é que não houve mensalão. Eu também não vou
ficar discutindo a decisão da Suprema Corte. Eu só acho que essa história vai
ser recontada. É apenas uma questão de tempo, e essa história vai ser recontada
para saber o que aconteceu na verdade", afirmou o ex-presidente. "O
tempo vai se encarregar de provar que no mensalão você teve
praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica."
Um
desses companheiros é José Dirceu, que chefiou a primeira campanha eleitoral de
Lula e depois, no primeiro ano de seu mandato, exerceu o cargo de
ministro-chefe da Casa Civil. Dirceu foi condenado a 7 anos e 11 meses de
prisão e passa seus dias atualmente no presídio da Papuda, em Brasília.
Outro companheiro é José Genoíno, igualmente fundador do PT. Ele
ocupou a presidência do partido entre 2002 e 2005 — a era do mensalão, e um
momento em que Lula exercia hegemonia absoluta sobre as engrenagens do
PT.
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