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Protestos na Turquia
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"E, após 30 anos testemunhando o uso instrumentos "não letais" pela polícia, minha impressão é de que canhões de água e balas de borracha estão levando a polícia do mundo todo mais perto de níveis "quase letais" cada vez menos aceitos pelos manifestantes que vão para as ruas pacificamente."
Protestos no Brasil, Turquia e outros países compartilham
símbolos
Paul Mason
Editor de Economia, Newsnight,
BBC
A linguagem
e o fuso horário mudam, mas, da Turquia ao Brasil, passando pela Bulgária, o
simbolismo dos protestos está cada vez mais parecido.
As máscaras do personagem de quadrinhos inspirado no
revolucionário inglês Guy Fawkes e popularizada pelo filme V de Vingança, os
capacetes improvisados para enfrentar o gás lacrimogêneo, os cartazes escritos
à mão - em desafio ao poder do Estado e à uniformidade do velho comportamento -
podem ser vistos em várias cidades.
Além disso, há também a juventude dos manifestantes.
No parque Gezi, em Istambul, por exemplo, antes de a polícia
retirar os manifestantes, era possível ver estudantes adolescentes aparecendo
todas as tardes, em pequenos grupos, ocupando o que ainda restava do gramado
para fazer a lição de casa da escola.
Imagens em São Paulo contam uma história parecida.
Nas duas cidades, pessoas nascidas em uma era pós-ideológica estão
usando os símbolos que conseguem agarrar para contar sua história sobre ser
moderno, urbano e insatisfeito: a bandeira nacional e a camisa de um time de
futebol local são memes comuns em Istambul e na capital paulista.
A dúvida é: para onde será direcionada tanta insatisfação?
Da Europa ao
mundo árabe
Na época dos tumultos na Grã-Bretanha e no sul da Europa em 2011,
havia respostas mais claras. Uma geração inteira de jovens presenciou o fim de
bonanças econômicas: eles provavelmente vão trabalhar além dos 60 anos e sairão
da universidade já com dívidas que podem durar a vida inteira.
E, como afirmaram os estudantes americanos durante protestos em
2009, os empregos que vão conseguir quando saírem da universidade provavelmente
serão os mesmos trabalhos precários que tinham enquanto estudavam.
Na Grécia, engenheiros altamente qualificados participavam do
protesto enquanto trabalhavam como garçons.
Com a Primavera Árabe, parecia diferente para quem olhava de fora:
estas economias cresciam rapidamente - no caso da Líbia, espetacularmente
rápido.
Mas ali observa-se algo peculiar: esta foi a primeira geração
cujas vidas e psicologia foram formadas pelo acesso imediato à tecnologia de
informação e às redes sociais. Isso torna muito fácil evitar a propaganda do
governo, censura e a imprensa governista.
A televisão estatal egípcia, por exemplo, perdeu toda a
credibilidade nos primeiros dias do levante contra o então presidente Hosni
Mubarak. Neste mês, quando emissoras turcas turco tentaram ignorar os protestos
no país, foram bombardeadas com reclamações.
(...)
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Protestos no Brasil |
São Paulo seguiram o padrão geral de vários grupos organizadores e
uma rede amorfa de pessoas que simplesmente escolheram onde iriam participar, o
que escrever em seus cartazes e o que fazer.
Por quê?
Em Istambul, alguns dos contatos da reportagem da BBC nos mercados
financeiros estavam perplexos e questionavam: por que eles estão protestando
quando este é um dos lugares que mais crescem (financeiramente) do mundo?
Nas ruas, a resposta era clara. Em primeiro lugar, muitos dos
jovens educados reclamavam que "a riqueza ia para uma elite
corrupta"; muitos afirmavam que, apesar de serem médicos, engenheiros
civis etc, não conseguiam pagar por moradia.
Mas havia outro motivo: eles sentiam que o governo conservador e
religioso do Partido AK estava sacrificando a liberdade.
Um articulista de moda turco, ou seja, não se tratava de um
revolucionário, reclamava de uma "hostilidade crescente e insidiosa ao
moderno".
E eles viram a ação pesada da polícia no acampamento do parque
Gezi como um símbolo dessa falta de liberdade.
Em São Paulo as reclamações eram mais claramente sociais.
"Menos estádios, mais hospitais" era a frase vista em um cartaz.
O aumento do preço do transporte público, combinado com a
determinação do governo de priorizar os estádios e a infraestrutura em seu
entorno, está entre as queixas mais comuns.
(...)
'Não letais'
E, após 30 anos testemunhando o uso instrumentos "não
letais" pela polícia, minha impressão é de que canhões de água e balas de
borracha estão levando a polícia do mundo todo mais perto de níveis "quase
letais" cada vez menos aceitos pelos manifestantes que vão para as ruas
pacificamente.
Apesar de ser uma comparação menor, os protestos na Bulgária, que
na quarta-feira forçaram a retirada de um polêmico chefe de segurança do
governo, estão associados a questões parecidas com as levantadas em protestos
ao redor do mundo.
Não se trata de um grito contra a pobreza, segundo os
manifestantes. É contra a corrupção, contra a natureza fraudulenta da
democracia e contra uma elite pronta para agarrar parte da riqueza gerada pelo
desenvolvimento econômico.
Resumindo, assim como em 1989, quando descobrimos que as pessoas
na Europa Oriental preferiam a liberdade individual ao comunismo, atualmente
muitos relacionam o capitalismo com elites que nunca são responsabilizadas por
nada, com a ausência de representação democrática efetiva e com o policiamento
repressivo.
E os eventos recentes mostram que pessoas comuns, sem ideologias,
descobriram uma forma de resistir a tudo isso.
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