DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo
Terça-feira toma posse o
Congresso eleito em 2010, que no mesmo dia elege os presidentes da Câmara e do
Senado para os próximos dois anos, sem que a sociedade possa reconhecer a
mínima relevância no fato nem consiga se identificar com o que ali se discute a
respeito do início de uma nova legislatura.
O distanciamento não ocorre por
acaso nem é fruto só da alienação de um povo despolitizado, pouco informado,
insuficientemente educado: é principalmente produto do comportamento do
Parlamento que se aliena da Nação e segue indiferente à gravidade da própria
situação de fragilidade e desmoralização.
E qual é o cenário hoje, 48 horas
antes da posse e da eleição dos chefes do Poder Legislativo?
|
No
Senado, José Sarney,
apesar
dos pesares ( foto Wikipédia)
|
No Senado, José
Sarney eleito por consenso pela quarta vez apesar de todos os conhecidos
pesares. Debate, só entre os partidos para a divisão dos cargos na Mesa
Diretora.
Na Câmara, a preocupação é que o
deputado Sandro Mabel e sua promessa de construir um novo prédio para acomodar
os gabinetes das excelências não atrapalhe a eleição do petista Marco Maia, já
no cargo desde que substituiu Michel Temer depois da eleição do colega para
vice-presidente da República.
Limita-se a isso a discussão,
embora seja ampla a agenda necessária. Nenhum partido gasta um minuto com os
problemas do Legislativo.
O PSDB, que saiu derrotado da
eleição presidencial prometendo fazer e acontecer, no momento polemiza sobre um
abaixo-assinado da bancada tucana na Câmara para a recondução de Sérgio Guerra
à presidência do partido em detrimento de José Serra. Um monumento à
irrelevância. A exceção é o minúsculo PSOL. Sem poder de influir, o partido
elaborou um elenco de temas aos quais urgiria o Parlamento se dedicar.
Tem-se, então, que os "grandes"
se dedicam a questiúnculas, enquanto o pequeno vai aos pontos.
São eles: 1. Recuperação da
atividade legislativa como protagonista do Poder de representação popular; 2.
Criação de uma agenda de trabalho para o primeiro semestre, incluindo a reforma
política; 3. Fim da submissão ao Executivo, notadamente no que diz respeito às
medidas provisórias; 4. Garantias de atuação para as minorias e respeito aos
critérios de proporcionalidade; 5. Cumprimento estrito do regimento, sem
atropelos de prazos e procedimentos; 6. Fixação definitiva de critérios para a
remuneração dos parlamentares e da alta hierarquia dos outros Poderes;
7. Divulgação de todos os gastos,
inclusive relativos à verba indenizatória; 8. Facilitação de acesso popular às
sessões plenárias e de comissões; 9. Fim da "privatização" dos
espaços internos da Câmara; 10. Proibição da posse de suplentes no recesso
parlamentar; 11. Melhoria dos critérios de escolha e funcionamento das empresas
prestadoras de serviços; para concluir, a mãe de todas as regras: 12. Rigoroso
zelo pela moralidade parlamentar.
A esses podem ser acrescentados
outros pontos, como os suplentes de senadores, e ainda não teremos completo rol
de temas bem mais relevantes que a renovação de feudos e a consolidação de
privilégios corporativos.
Risco zero. Dilma cancelou ida a
inauguração de usina por causa de protestos dos ambientalistas. Antes havia
cancelado o envio de reformas estruturais do Congresso por causa das
dificuldades em aprová-las.
São dois atos distintos; o que os
une é o esboço de um estilo avesso a enfrentamentos.
Ainda a serra. Geólogo, Lázaro
Zuquette escreve para discordar de que as ocorrências na região serrana do Rio
sejam um "case" digno de estudo minucioso. "Qualquer estudante
de geologia sabe que a extensão da serra do Mar voltada para o oceano evolui
devido aos escorregamentos e processos erosivos".
Cita como exemplo a ocorrência de
15 mil escorregamentos nas serras do Mar e da Mantiqueira entre 2010 e 2011,
cuja maioria não atingiu pessoas nem bem e, portanto, não se caracterizaram
como desastres.
E conclui: "O que aconteceu
foi normal para a área, o anormal é que os administradores autorizam a ocupação
urbana na região".
Nenhum comentário :
Postar um comentário
Você poderá deixar aqui sua opinião. Após moderação, será publicada.