"Marina Silva se desgarrou do PT, como é sabido, mas não se livrou dos piores vícios da nave-mãe. Querem um exemplo? Ela foi uma das mais entusiasmadas defensoras do Decreto 8.243, o tal que atrela a administração federal a conselhos populares e institui, na prática, uma Justiça paralela. Seu “movimento”, que não é “partido”, combina com aquele estado de permanente mobilização, em que a militância atropela as instâncias da democracia representativa."
Marina
Silva é uma esfinge. Sem segredos. O que ela pensa? Dizer que ninguém sabe é
bobagem. Dá, sim, para saber. Não vou cair aqui na conversa mole de perguntar
se Marina vai ou não realinhar as tarifas se, candidata do PSB, for eleita. É
claro que vai. Qualquer que seja o eleito, o reajuste vai se impor. Contra
quem? Contra ninguém. O realinhamento será uma imposição da realidade. Afinal,
o Brasil não é a Venezuela. Se for presidente, Marina também vai ter de cortar
gastos públicos — é o que Dilma ou Aécio terão de fazer. “Mas tirar dinheiro de
onde?” De algum lugar. Ou o país vai para o vinagre. Nenhuma dessas
vulgaridades me interessa. Essa gritaria só serve para gerar calor. E nenhuma
luz.
A
Marina que importa é outra. Sim, concordo: é quase impossível entender o que
ela fala, com suas metáforas, alegorias e derivações impróprias — refiro-me à
gramática mesmo! — porque, sei lá, os 340 mil verbetes contidos no “Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa” não lhe bastam… Faz sentido: pensamentos
intraduzíveis pedem palavras… indizíveis. Pode não dar para entender o que ela
diz, o que sempre desperta a suspeita do sublime, mas dá, sim, para saber o que
ela pensa. E ela não pensa coisas boas.
Começo
pela questão mais recente. Marina Silva se desgarrou do PT, como é sabido, mas
não se livrou dos piores vícios da nave-mãe. Querem um exemplo? Ela foi uma das
mais entusiasmadas defensoras do Decreto 8.243, o tal que atrela a
administração federal a conselhos populares e institui, na prática, uma Justiça
paralela. Seu “movimento”, que não é “partido”, combina com aquele estado de
permanente mobilização, em que a militância atropela as instâncias da
democracia representativa.
Recuemos
um pouco. Como esquecer a atuação de Marina Silva durante a votação do Código
Florestal? Se a sua proposta tivesse vingado, o país teria sido obrigado,
atenção!, a reduzir a área destinada à agricultura e à agropecuária. O que
escrevo aqui não é especulação. É apenas um fato. É demonstrável. Em 2013, a
balança industrial produziu um déficit de US$ 105 bilhões, e o setor
agropecuário, um superávit de US$ 82,91 bilhões. Isso para um país que teve um
superávit de apenas US$ 2,5 bilhões. E olhem que foi uma trapaça contábil. De
verdade, o saldo foi negativo. Ou por outra: o agronegócio salva o Brasil da
bancarrota, mas Marina Silva queria diminuir a área plantada.
É
o tipo de militância que seduz os descolados e os ignorantes, mas de ampla
repercussão no exterior, especialmente nos países ricos que acham que devemos
deixar a agricultura com eles, enquanto a gente disputa o cipó com os macacos e
foge das onças-pintadas. Todos queremos preservar a natureza, é claro! Marina
queria, de modo irresponsável, dar um tombo na agricultura e na pecuária. Ela
quer economia sustentável? Quem não quer? A questão é saber o que entende por
isso.
Pegue-se
agora a questão energética. O Brasil só não passa por um apagão de fazer 2001
parecer brincadeira de criança porque cresceu 2,7% em 2011; 0,9% em 2012; 2,1%
em 2013 e deve ficar em torno de 0,8% neste ano. Em 2015, projeções
responsáveis apontam que não passa de 1,2%. Estivesse crescendo, como precisa,
a pelo menos 4%, já estaríamos no escuro.
Mesmo
assim, ainda que tente aqui e ali dizer o contrário, Marina se opôs, sim, à
construção da usina de Belo Monte. Tanto é que apoiou um vídeo imbecil chamado
“Gota d’Água”, que dizia uma impressionante coleção de bobagens a respeito da
usina. Mais: esse empreendimento será subutilizado, sim, porque Belo Monte não
terá reservatório. Será do modelo fio d’água. Pesquisem a respeito. Só se fez
essa escolha errada por causa da militância ambientalista que Marina
representa, já que se inunda uma área muito menor, mas se produz, em
contrapartida, bem menos energia.
Em
2010, a Marina candidata foi ao programa “Roda viva” e tratou do assunto. Como
fala pelos cotovelos, impede que o pensamento de seus interlocutores respire.
Vejam. Volto em seguida.
(...)
Se
ela se eleger presidente e puser em prática o que pensa sobre militância
organizada, a relação com os Poderes instituídos, o agronegócio e o setor
energético, quebra o país e o conduz a uma crise política sem precedentes.
Claro! Uma Marina que conseguisse governar teria de jogar fora a Marina
“sonhática”, que está muito mais para “pesadêlica”.
Por Reinaldo Azevedo
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