Prestígio de Lula no exterior contrasta com a miséria da política, com a corrupção generalizada, a desindustrialização e a maquiagem da pobreza no Brasil
por Hugo Souza
Nesta quinta-feira, 14, o ex-presidente Lula recebeu na Espanha o Prêmio Internacional Catalunha, por causa, segundo a justificativa oficial, “da política de crescimento econômico de seu governo que colocou o Brasil à frente da globalização, alargando a classe média e favorecendo uma divisão mais justa da riqueza e das oportunidades”.
Foi o enésimo prêmio recebido por Lula no exterior. Foi a enésima honraria justificada basicamente pelos mesmos supostos prodígios do ex-presidente quando dos oito anos que ocupou o cargo, em uma lista que vai do prêmio de “Homem do ano” do jornal francês Le Monde ao de “campeão” do combate à fome dado pela ONU, passando por muitas ordens do mérito militar e muitos títulos de doutor honoris causa, isso sem contar que o ex-presidente é uma espécie de candidato permanente ao Prêmio Nobel da Paz.
Tamanho prestígio de Lula no exterior, entretanto, talvez seja fruto mais do eficiente marketing do PT e menos das “conquistas” do Brasil após dez anos de gerenciamento petista — sim, porque o Brasil visto sem o filtro da propaganda oficial é muito diferente do “país de todos”, como decreta o slogan publicitário do governo federal.
Como um tablet num barraco de zinco
E que país é este? É um país afundado na miséria da política, na corrupção generalizada e no consequente apodrecimento da democracia representativa, cujo sintoma maior são os sucessivos recordes de abstenções nos últimos processos eleitorais; é um país em franca desindustrialização, com a balança comercial cada vez mais dependente das commodities do agronegócio, fazendo de nós uma espécie de semicolônia moderna; é o país da imensa fragilidade da independência entre os poderes, fragilidade esta escancarada pelo mensalão do PT, desde a compra de votos em si até o acordão que até agora poupou Lula, o então chefe do executivo corruptor, de qualquer tipo de investigação.
É o país onde o maior indicador de melhoria da qualidade de vida que o governo consegue apresentar é o da explosão das vendas de telefones celulares em 10, 12 ou 24 vezes sem juros, como se em algum lugar do mundo um celular no bolso significasse mais dignidade, segurança no trabalho, nas ruas, direitos, garantias, acesso a saúde e educação de qualidade, transporte público decente, menos impostos ou tudo mais que o país precisa com urgência.
É mais ou menos a mesma lógica — guardadas as devidas proporções — da substituição dos livros escolares por tablets nas escolas que funcionam em barracos de zinco no miserável Quênia…
A classe média eleitoreira do PT
Na última terça-feira, 11, em um evento na França, a presidente Dilma disse que um dos objetivos do seu governo é transformar o Brasil em um país de classe média. Não será difícil se o PT continuar mascarando os números do combate à pobreza, como fez recentemente, em junho deste ano, quando determinou que a partir de então seria de classe média a família que tivesse renda per capita mensal entre ínfimos R$ 291,00 e modestíssimos R$ 1.019,00.
Um dos mais retumbantes desmentidos ao slogan petista do “país de todos” e da distribuição de renda como “nunca antes na história deste país” foi um estudo inédito do Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-HABITAT), divulgado em agosto deste ano, segundo o qual o Brasil é hoje o quarto país mais desigual da pobre América Latina, aparecendo melhor colocado apenas do que Guatemala, Honduras e Colômbia.
O jornal britânico The Independent, que o PT não pode acusar de “reacionário” ou “de direita” — como gosta de fazer, da militância aos grão-duques, posando de “esquerda” que há tempos o partido não é, se é que algum dia chegou a ser — publicou no último dia 7 de dezembro uma reportagem sobre como a economia brasileira não cresce mais exatamente por causa de problemas estruturais a respeito dos quais o PT, há dez anos à frente do Executivo, dá sinais de que não vai conseguir solucionar.
Caro leitor,
Você acha que o Lula, galardoado inúmeras vezes no exterior, é mais um produto do marketing petista e da propaganda oficial do governo e menos uma consequência das suas realizações como presidente do Brasil?
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