"Não há dúvida de que o atual governo tem a marca do continuísmo, apesar
de já ter começado a inevitável comparação entre Lula e Rousseff. Note-se que
os ministros mais importantes são os mesmos, reconduzidos por Lula que já
voltou aos palanques e confirmou sua continuidade na festa de aniversário do PT
ao dizer: 'Eu apenas não estou no governo'. 'Mas sou governo como qualquer
companheiro que está no governo'. 'Minha relação política com Dilma é indissociável
nos bons e nos maus momentos'”.
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Lula:"eu sou governo" |
A propaganda é um ardiloso método
que possibilita ir ao encontro da necessidade dos homens de serem enganados ou
de se alienarem a um ídolo para o qual transferem suas supostas melhores
qualidades. A criatura humana ama a mentira porque precisa de sonhos e os
propagandistas sabem muito bem disso.
No caso específico dos políticos,
se sua constante autoglorificação é tão velha quando o mundo e parece
ultrapassar a dos demais indivíduos, não dispensam, contudo, a ajuda dos
marqueteiros. Entretanto, prefiro como coloquei incialmente, usar com relação à
política, a ajuda dos propagandistas, na medida em que propaganda objetiva
difundir doutrinas e programas.
Foi a partir da Primeira Guerra
Mundial que se deu o uso oficial da propaganda. Usada de forma sinistra,
repugnante e mentirosa nos sistemas totalitários, comunista e nazista, não
excluiu nos dias de hoje a manipulação das opiniões por um indivíduo ou grupo a
fim de alcançar seus próprios fins. Transforma-se, assim, a propaganda numa
tremenda arte de manipulação que induz pessoas a acreditarem no que não existe.
Iludida, a maioria é conduzida para desfechos que lhes são traçados por
vontades alheias à sua, sem sequer perceber o ardil.
Á partir da ajuda da propaganda o
político constrói uma imagem na qual seleciona seus melhores traços, geralmente
imaginários e plenos de narcisismo e, desse modo, se oferece para o culto de
sua personalidade.
Foi desse modo que o raivoso Lula
dos palanques, que manda exterminar partidos, adora ditadores quando lhe
convém, mostra seu desgosto pela imprensa livre foi transformado para ganhar
eleição no “Lulinha paz e amor”, de terno Armani, barba aparada, discurso
adequado para não amedrontar capitalistas com a toada revolucionária da luta de
classes. No poder Lula lembrou Mussolini que desejava “fazer da própria vida
sua obra-prima”.
Lula logrou eleger sua sucessora
e imediatamente a propaganda começou construir a imagem de Rousseff baseada na
reclusão na qual ela parece se refugiar por, talvez, lhe faltar aquela tarimba
política que faz a delícia das multidões, o raciocínio apto a responder de
pronto ás perguntas de jornalistas e certo grau de bom humor para compensar a
aspereza no trato. Mas, como num passe de mágica, a propaganda construiu para
Rousseff a imagem idealizada de uma rainha distante, romanticamente resguardada
em sua torre de marfim.
Apesar da propaganda, Rousseff
começa seu “reinado” com grandes dificuldades oriundas do governo do qual
participou, sendo que a mais grave de todas é a inflação que já galopa de modo
descontrolado Em busca de continuidade, Lula acabou largando várias granadas
sem pino no colo da sucessora.
Como explicou Celso Ming
referindo-se ao recente pacote governamental do corte de R$ 50 bilhões, do qual
muitos duvidam da eficácia: “Se agora fica admitida a necessidade de cortes,
então fica também reconhecida a existência da inflação de demanda, provocada
pela forte geração de renda que se seguiu à disparada do gasto público com fins
eleitorais, que, por sua vez, gerou forte descompasso entre procura e oferta de
bens e serviços” (O Estado de S. Paulo – 11/02/2011).
Rousseff, ex-ministra de Minas e
Energia, tem à frente pesada herança maldita que inclui apagões que vêm
acontecendo com frequência, sendo que o último atingiu no dia 4 deste mês oito
Estados do Nordeste. A tendência é piorar enquanto os brasileiros pagam pela
energia um dos preços mais altos do mundo.
Problemas seríssimos como o dos
aeroportos, da Saúde, da Educação, da Copa do Mundo com orçamento já estourado
e obras atrasadas, das Olimpíadas e muitos outros mais, todos herdados do
governo Lula vão deixar a “rainha” cada vez mais enfurnada em seu castelo,
restando-lhe o gênero clássico de apresentação na TV, a alocução, quando o
governante monologa e se dirige diretamente aos telespectadores. O resultado
geralmente é tedioso e medíocre como aconteceu com recente aparição de
Rousseff.
Não há dúvida de que o atual
governo tem a marca do continuísmo, apesar de já ter começado a inevitável
comparação entre Lula e Rousseff. Note-se que os ministros mais importantes são
os mesmos, reconduzidos por Lula que já voltou aos palanques e confirmou sua
continuidade na festa de aniversário do PT ao dizer: “Eu apenas não estou no
governo”. “Mas sou governo como qualquer companheiro que está no governo”.
“Minha relação política com Dilma é indissociável nos bons e nos maus
momentos”.
Os companheiros de governo que
estavam na festa de 31 anos do PT para saudar seu presidente de honra e
desagravar José Dirceu eram os mesmos “mensaleiros”, especialistas em dossiês,
governadores e ministros, alguns com problemas na Justiça. José Dirceu, que
nunca saiu, diz que volta. Delúbio também. Todos continuam prontos para espanar
a cadeira onde Lula pretende se sentar novamente em 2014. Afinal, a propaganda
pode persuadir a maioria de que ele é o rei bom e que todas as ruindades
ficaram por conta da rainha má. Esse é o enredo onde eles continuam.( por Maria Lucia Victor Barbosa)
Fonte:
Maria Lucia Victor Barbosa é
socióloga.
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